Biografia
Adriana Araújo Drummond, nascida em 23 de setembro de 1963, em Sete Lagoas / MG, desde a mais tenra idade despertou para a Arte. Quis a vida intensa que separa a natureza rural da confusa e simbólica, urbe interiorana.
Sua família, das mais tradicionais das Minas Gerais, tem origens escocesas e portuguesas; ensimesmada nas agruras das conquistas do cerrado mineiro, desde aqueles tempos, quando se pegavam as índias a laço.
Adriana é brava, feito índia. Tem aquele ‘q ’ de mestiça. Branca na pele, cabelos bem pretos. Alma de cabocla rebelde. Desde moça, menina ainda, já queria correr trecho, sozinha. Escutava histórias e se deleitava em sonhos...
Com a sua primeira mestra Maria da Glória Lanza, (a Bigóia) aprendeu sobre as tintas e cores. Aprendeu que Deus só dá aos que têm o dom do misturar: a poesia das cores, das formas, dos movimentos. No pari passu das artes plásticas, esperou. Até ir fazendo, quadro por quadro. Obra por obra.
Quantos ateliês? Quantos alunos? Quantos parceiros de labuta? Quanto tempo de estrada? Quantas telas? Quantas exposições? Difícil de contar. Difícil manter tudo registrado. Difícil guardar o passado, quando o presente é que conta. Vida de artista não é fácil. Ela que o diga. O futuro chegou pra ela.
Esposa, mãe, empresária. Adriana sofreu as lides do seu tempo. Soube ser mulher amiga, irmã, filha, mãe e tudo mais que quis. Até conhecer Paris. Seu sonho de ’’atriz’’. Mudar-se pra Paris e produzir moda... Uau!
Não ficou só nos sonhos. Realizou os seus reveses. Estudou com Lacroix. Deu linha nos tecidos, que pintava aos borbotões, ensinando as mães solteiras a terem profissão. Deu as voltas no couro. Lançou moda. Pegou ’’o boi pelo chifre’’. Causou inveja em muita gente. Até em homens, esses mais bobos.
De repente, a indústria têxtil e os curtumes, que frequentava assídua, jogam-na, literalmente, de encontro a uma realidade nua e crua - a poluição ambiental, que a desalenta e agride.
Consciente, lúcida, corajosa, dá uma quinada de 180° em sua carreira, retornando, definitivamente, ao espaço imanente das Belas Artes - seu ego sum, sua vida de artista quieta, trabalhadora, silenciosa. Seu mundo interior.
Foi assim que deu conta dos tropeços e das escadarias que a fama nos impõe. Desde o desfile no tapete vermelho, quando foi glamour girl, no tempo dos biquinis de bolinha amarelinha, até hoje, quando ri feliz e satisfeita de ter feito tudo um pouco, sem ter se arrependido das tentativas, erros e acertos.
Suas obras artísticas demonstram um suave e comedido crescimento emocional, onde mistura tons vivos e sensuais, procurando um ‘não sei quê de não sei onde’, que só no cerrado quente a gente compreende...
Quem nunca roeu pequi não pode se arvorar em compreender o que o cerrado dá de bom e de quente na alma da gente. Suas telas são pura poesia abstrata. Palavras novas. Frases mudas. Imagens do inefável. Suas colagens dizem tudo sobre esse nada que é o homem sobre a terra. E impelem a querer saber do amanhã - o que será de nós?
As obras de Adriana são completas. De admirar um quadro seu. Uma colagem, então... E os tecidos pintados a quatro mãos? E os objetos, aqueles mais caros? Ela bem humorada e satisfeita, negocia e vende o seu trabalho.
Descrever suas obras é mexer no anônimo de Deus. É mexer no infinito da inconsciência. É misturar o dionisíaco com o apolíneo. É ouvir, surdamente e absorto, as óperas de Wagner, tocadas na madrugada fria da Serra de Santa Helena, até perder os sapatos de cromo alemão, num ritual pagão...
Suas telas trazem o vermelho em profusão, com traços de amarelo e azul, bem finos, esmiuçados em movimentos sinfônicos. O azul é, por demais, profundo. E joga luzes sobre um dourado delineado, que procura o branco.
O equilíbrio desequilibrado. O emotivo do dever ser. Em suas obras, a (i) moralidade da natureza feminina é esmiuçada, questionada e incomparável. Desnuda e desfiada. Diante da repressão de uma sociedade escravocrata e machista, as suas dores e dúvidas se refletem, quase sempre emudecidas; entremeio às felizes conquistas, de Mulher que muito amou.
O luxo e o lixo. O grito mudo da mulher reprimida, em uma sociedade bruta, animal e violenta, que quer calar a dor dos que se rebelam e gritam. Adriana grita e se revolta através das tintas, das cores e das formas.
Seu trabalho artístico é plástico, intenso, múltiplo e variado. Incrementado com vários estilos. Várias experiências. Tantas tentativas e erros... tantos caminhos... tantos materiais, pensamentos, fardos, espinhos, lágrimas e risos... Vida de artista não é fácil... Ela sabe...
Trilhou seu caminho na Arte com heroísmo. Não sucumbiu ao banal do mundo monetário. Buscou o novo. Acendeu ideias. Criou sonhos. Tentou o capeta e arrazoou o santo.
Adriana é uma mulher saudável, conhecedora das emoções que soterram a alma humana. E sempre diz: cuidado! cuidado! Quando se trata do amor e da paixão. Conselhos de quem ja sofreu horrores, por querer amar...
por Jose Renato de Castro Cesar
Poeta, escritor e ensaísta